Ela se apóia nas grades da ponte e olha para o rio. Chora, em silêncio. Sente que está sendo observada. Vira o corpo e ele está lá. Ainda. Parado. Sem nenhum gesto que possa indicar uma retirada. Ele a aguarda. Ela se aproxima, então. Descreve seu medo. O medo dos últimos relacionamentos. A confortável desilusão. A alegria, finalmente, de poder sustentar a solidão, fora do espaço do drama e da lamúria. Feliz, porque afinal, sabe preencher o canhoto dos cheques, entra sozinha num bar e pede um vinho tinto, viaja desacompanhada e tem cartões de crédito de cores e saldos incríveis. Com a voz embargada, solicita: Não tente me tirar isso. Os cabelos desalinhados, a maquiagem borrada e os pés doloridos por causa dos sapatos de salto. Ele sorri e diz que não vai desistir. Ela questiona:
---Como isto vai funcionar, Mr. Shine?
--- Não faço a menor idéia! Mas vai funcionar. Eu prometo.
---Vamos caminhar, então?
---Sim.
Os dois caminham juntos. Ela está muito mais alta do que o normal. E ele é baixinho. Ela retira os sapatos. E descalça, ficam quase da mesma altura. E ele diz:
--- Você é meu tipo de garota.
Pessoas caminham, crianças brincam, vento, árvores, música feliz. E final do filme.
Eu, saio do cinema mais leve. E me dirijo ao café de sempre. O barista sempre sorri para mim e desenha, sobre meu espresso com leite, um coração todo enfeitado.
7 comentários:
Que tal pedirmos dois cafés e dividirmos o barista? (rs)
lindo...
lindo.
Um belo e comovente relato.Maestria nas linhas e suavidade nas metáforas!!!
É belo, já estava ansioso faz tanto tempo,
mas a espera vale a pena
como sempre é um texto que me comove muito
como uma cena que provavelmente passaria despercebida por mim pode ser tornar um texto tão marcante.
belíssimo, como sempre.
Delicado! Bela cena!
ótimo. E esse barista, é charmoso? rs.
bjs, saudades
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