terça-feira, 2 de novembro de 2010

Delírio

Vejo uma caixa na rua. Uma caixa sem abas, parada, no meio da rua. Vem um automóvel. Quase atropela a caixa. Vejo uma folha na rua, uma folha, solta, no meio da rua. Quase voa, a folha, em resposta ao vento. A folha se aproxima da caixa parada. E um automóvel passa raspando. Um rato passa na rua. Olha a caixa, não vê a folha e entende a pressa do automóvel. O rato desaparece. Agora, vejo a caixa atropelada pelo automóvel. A caixa disforme, esconde a folha, lisa e rente ao asfalto. Tenho medo de ser um dia uma caixa vazia acompanhada de uma folha sem rumo. E agradeço agora, por ser apenas eu, que olho e vejo uma caixa acompanhada de uma folha. Parada, no meio da rua.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tem medo da solidão, Li?

Sunflower disse...

ou um saco de plástico fujão que foi atrás da liberdade e acabou preso no topo de uma arvore.

ítalo puccini disse...

eliana,

gostei demais desse teu escrito! demais mesmo!

esse encadeamento de palavras. achei perfeito!

tem algo de zeca baleiro lá no um-sentir :)

beijos!

Roberta disse...

escrita em redemoinho. adorável.