sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Naufrágio

agora estamos no outro mundo
e o idioma é inventado


temos medo de altura
o grito e o salto
para elidir a altura
para cessar o desafio


salto coletivo de todos os edifícios
que iremos abandonar


incêndio na torre
o fogo queimando os corpos, aos pares,
aos montes,
campos de concentração esvaziados

um louco vê o olho da torre
a torre é um ogro
a torre
que iremos abandonar


a mulher antiga nunca cortou os cabelos
o rastro de cabelos pelo chão chega até o rio
ofélia grita: meu amado, venha, venha, venha
ofélia branca e fria, fantasma das citações


um navio gigantesco, imensurável,
destes navios que só existem em sonhos difíceis
o capitão do navio está perdido
o navio está perdido
o navio
que iremos abandonar

mas as águas sorrateiras
se transformam em edifícios
desafiam nossos medos
ondas de desespero
ondas de dar medo


no mar
que abandonamos.