sexta-feira, 7 de maio de 2010

Drops 6

Só aconteceu naquela tarde, mas era uma tarde antiga, quase esquecida de tão velha. Uma mulher bela, de uma beleza incômoda, descansava sob a relva, protegida do calor por escravos fiéis que produziam ventos e por tecidos finamente bordados, que protegiam a pele. Esta mulher sonhava com anéis brilhantes e planejava arranjos arquitetônicos nos cabelos. Ao morder uma das frutas vermelhas que trouxera, para aliviar a primeira fome, viu um objeto em movimento próximo a uma das margens do rio. Nem se deu ao trabalho de levantar. Ordenou que um dos homens trouxesse aquele objeto que, estando dentro do rio que lhe pertencia, era também sua propriedade. Visto de perto, o objeto era vivo. Dentro de uma cesta, o bebê adormecido. A mulher belíssima sentiu um certo cansaço pois previa o choro e a lista de necessidades. Mandou que levassem o bebê, seu novo objeto, ao palácio. E, aproveitando o sol que ainda restava, adormeceu, esquecida. Criado por suas escravas, que o alimentavam para compensar o desprezo da mãe distante, o menino cresceu sem saber que era um príncipe. Nunca se lembrava dos castigos e das perversidades da mulher bela. Era sua mãe e era tão linda, que ele preferiu ter memória curta. Cresceu, como todos os meninos, até os sete anos. Depois, como que por milagre ou desajuste, cresceu como nunca se viu um menino crescer. E passou a usar um chapéu de nuvens. E com a cabeça nas nuvens começou a relembrar. As cenas de tortura, os esquecimentos, os insultos, tudo girou outra vez e essas lembranças em movimento doíam demais. De posse de uma pequena mala, na qual estavam seu objetos preferidos, partiu. Pelo caminho, encontrou uma menina triste, que também fugia, e chorava. Sentou-se ao lado dela, com dificuldades. Era difícil conversarem. Ficou muito inclinado para poder escutá-la. Abriu a valise e mostrou seus pertences: uma presilha em forma de estrela, um dente bem pequeno envolto num véu finíssimo, pedras e sementes. Ela perguntou, fungando ainda por causa do choro: “Para que estas sementes?”E ele respondeu, lá do alto da torre de sua cabeça: “Para criarmos um outro mundo.” A menina, mais curiosa do que triste, quis seguir pela estrada, acompanhada por este amigo que de tão alto, era quase imaginário.

3 comentários:

Anônimo disse...

O menino do chapéu de nuvens. Tem sonhado com ele feito Alice, Eliana Mara?
Ótima incursão nos contos fantásticos.

Bjs

Eliana Mara Chiossi disse...

Chorik,
ainda nem assisti ao filme.
Mas estou gostando também de testar os contos fantásticos.
Beijocas e feliz dia das mães

Noslen ed azuos disse...

Sorvi todos os drops, imaginei aqueles coloridos, lembra; ...cada cor uma história e um sabor; ao ler segui as palavras com imagens feito um desenho, (daria um bom desenho animado) todos os personagens e suas falas e personalidade, e não basta ser deus é preciso ter criatividade.

bjs
ns