Entrei devagar
na sala branca dos meus sonhos.
A sala era minha
e eu me sentia intrusa.
Nenhum móvel combinava:
objetos não sintáticos
se acomodavam
junto às paredes.
Enfileirados, estavam
a geladeira da casa da minha vó
o colchão velho na vertical
bicicleta em ferrugem exposta.
Fotografias coladas na parede e teto,
olho para o teto e vejo que só há fotos minhas.
Deito no chão que me espinha
e olho as fotos como quem vê estrelas.
Na sala branca dos meus sonhos
o teto é coberto de fotografias e das minhas poses.
Como estrelas, cada fotografia compõe um pedaço
do teto
que é céu de morte
Ver estrela é ver algo que já deixou de existir.
Truque macabro e óptico
as fotos afirmam que morri
e a sala branca dos meus sonhos
é este caixão bem arrumado que fecharam,
enquanto eu, sem saber, ainda respirava.
Um comentário:
Sinto-te em outra fase, embora mantendo o mesmo perfeito domínio da imagem na mente do teu leitor. Sigo te admirando.
Bj
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