domingo, 14 de março de 2010

Cerejas, cerejas, cerejas


Então
o mundo era nosso:
meus pais, reunidos
cada um ao meu lado
diante da mesa posta.
Os convidados
todos me olhando.
O bolo,
a cobertura
e a alegria ao redor.
Mas eis que,
arauto da maldade,
um menino franzino
desses que matam formigas
com pura maldade,
denunciou:
--- Não tem cereja! Não tem cereja! Não tem cereja!
A reunião,
perfeita e simétrica,
de pais reconciliados
ao lado do filho,
fino cristal que se parte.

A festa descansa na minha lembrança
manchada pela voz
implacável da morte
rachando a inteireza das coisas
que amei.

7 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

lindo...lindo...seus textos me encantam tanto...

dansesurlamerde disse...

ora, ora, que menino boboca.

bonito texto.

beijo.

Marcelo Nascimento disse...

Adorei esse menino malvado, sou eu em minhas lembraças, mesmo não gostando de cerejas acho que encontraria outra forma de estragar essa festa tão perfeita, na minha lembrança não teria a menor graça tanta perfeição.

adorei o texto!!!

Renata (impermeável a) disse...

pena que o menino nao foi tão singelo e meigo como seu texto.

Anônimo disse...

Lendo-nos, vi-me na perfeição simétrica e na estridência do grito. Tristeza profunda.

Daniela Sampaio disse...

Muito pouco desse mundo nos causa tamanha falta de molejo sóbrio como a sinceridade crua de uma criança.

Good boy. : )

Muadiê Maria disse...

que menino chato!