terça-feira, 14 de outubro de 2008

Milagres

Para Denise, que provocou postagem nova
Quando a faca atravessou o peito havia estrelas deslumbrantes neste céu. Enquanto jorrava o sangue -trabalho da faca-, flores alegravam jardins e festas. O corpo contorcendo uma dor sem nome. O corpo todo em forma de grito. A faca brilhando no meio das carnes desorganizadas. E para fora do quadro-crime, talvez uma multidão de crentes entoando seus louvores, crianças nascendo inaugurando pais e mães, antes apenas seres atordoados de egoímo. A faca quieta, repousando. O corpo gesticula querendo viver. E lá fora, sol. Na beira do rio, pessoas felizes assustam peixes preguiçosos. Criação de Deus o milagre. Existe uma faca e a vida não estanca.

5 comentários:

Anônimo disse...

a vida não estanca. mas estaca, hoje, amanhã, quem sabe, Deus? não podemos saber, talvez crer. As facas são instrumento humano, não o sangue, nem instrumento nem criação. Espetar as facas é de nossa responsabilidade, estancar ou não, já não...aplacar a dor no corpo nosso e de outrem, pode ser milagre, ou não.

Anônimo disse...

Perfeito.
(eu nem sei mais o que dizer de seus textos)
Todos intensos, tocam lá dentro, num lugarzinho escondido.

beijos.
Te esperando.

Denise Egito disse...

Nossa, Eliana, que poema pungente e arrasador. Foi a leitura que eu fiz! Senti a dor, sei lá.
Mas gostei.
Obrigada,
Denise

anarresti disse...

a tua escrita é cheia de vida, precisamente.

Maria Elisabeth disse...

É o Sândalo perfumando o machado que o fere.
Tem café pra vc lá, dona moça.