quarta-feira, 11 de junho de 2008

Vidas de Postal - no Nouss Nouss

Aos leitores: não costumo usar este espaço para outras atividades, além de postar insights de escrita. Mas hoje abro uma exceção e divulgo um texto de apresentação que fiz para o site da Alice Bernardo, participando de um projeto maravilhoso chamado Vidas de Postal. Lá, há um texto meu escrito a partir de um postal enviado por Alice. Conheçam o Vidas de Postal. É um espaço muito, muito especial. http://www.noussnouss.com/elianamara/





Era uma menina travessa. Bochechas salientes acompanhadas de um sorriso constante, mesmo nos dias de fome, frio e falta de cuidados. Os adultos trabalhavam o dia inteiro, chegavam exaustos. Desejou durante toda a infância que alguém cuidasse dos seus cabelos com afeto. Na família, em dias de bondade, a família a chamava por Li, que era o seu apelido. Mas quando a mãe estava irritada ou iria puni-la por alguma desobediência, destacava as sílabas de seu nome: E-li-a-na Ma-ra, já para dentro! Hoje fez as pazes com o nome e usa para assinar escritos, cartas, recados, mensagens nas garrafas e nos espelhos. Aprendeu a ler sem ajuda de ninguém. Sempre soube que os adultos não eram de confiança. Mãe de Gabriela e Lucas. Avó de Miguel, não sabe quem lhe deu forças para ser uma mãe razoável. E sempre teve medo de todas as dores que poderiam ameaçar os filhos. Gosta de escrever cartas, gosta de enviar cartas. E pasmem, gosta de receber cartas. Não gosta de pessoas fracas. Gosta muito de pessoas que têm medo. Têm medo de pessoas impassíveis. Adora chocolate e Fernando Pessoa. Não come chocolates porque não é mais menina e porque chocolate vira fóssil no seu corpinho de 45 anos. Tem olheiras e gostaria de não te-las. Tem belas pernas e agradece aos gens da mãe por isso. Planeja, na velhice, acordar sempre com óculos escuros e declara que esta foi a melhor lição que obteve do cinema norte-americano. Trabalha, pode-se dizer que tem uma carreira. E deseja imensamente sair do trabalho, para nunca mais. Anda em fase de desilusão como método. E aprende, a cada dia, que para se desiludir, basta ouvir as frases doces das pessoas que usam facas. Confessa que é fã da alegria, mas tem uma competência incrível para ser triste. Não acredita em Deus, e faz um estágio com os deuses e diabos que a habitam para ver se algum consegue erguer um império no seu íntimo. Para faze-la feliz, basta um cafuné na cabeça. Gostaria muito de ser má, mas não consegue, ainda. E seu único fanatismo é escrever.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prazer em conhecê-la. Sempre, sem exceção.

Eliana Mara Chiossi disse...

Rm,

reciprocidade.
Sempre, sem exceção.