sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pão e amor

Para Amèlie, sobre a consolação



Na oração, agradeço o pão que cobre a mesa. O pão ocupa espaço e responde rápido os clamores desta primeira fome. Cai pesado e traz resposta. O pão abranda o medo de que a fome me esvazie. O pão me consola. O pão me fortalece para ficar de joelhos. É um pão concreto e de contornos definidos. Pão completo que responde às perguntas dos famintos. O pão ativa minha memória e pronuncio palavras mágicas. Peço amor aos santos do calendário. Os santos não me ouvem e o pão da memória repete palavras cifradas. O pão da resistência me deixa acordar amanhã, peregrina de sandálias gastas, deambulando outros endereços. Outros santos em outros altares. O amor que procuro é um pão vazio. Pão extinto. Pão do qual retiraram a capa e o miolo. É um pão sem sentido. O amor que eu espero é um pão simbólico, pão das escrituras. Deus me dá o consolo deste pão em poesia, e ninguém me explica porque amanheço faminta de todas as crenças.

4 comentários:

Anônimo disse...

Todas as crenças não terminam aqui. Nem começam nos altares.
E a oração ainda não foi feita.

beijos, flor

Vee disse...

É impressionante...

Muitas vezes, parece ser preciso não estarmos esperando mais nada de nada e nem de ninguém para que as coisas aconteçam.

Então nós partimos o pão ao meio, e cada fatia tem sempre dois lados.


Beijos.
Que seu dia seja iluminado.

Eliana Mara Chiossi disse...

Amèlie,

sua presença é um presente de domingo.
E sua visita era desejada.
Iluminações pra você também.

Beijos

Anônimo disse...

Totalmente fora do contexto:

É claro que os santos não comem; só bebem. Daí a expressão "essa é pro santo" antes de tomar uma pinguinha...