domingo, 4 de maio de 2008

Imagem e semelhança

Não vale a pena negar. Sei que há muito de clarice em mim. E ao contrário do que dizem, não é motivo para vaidade. Porque vejo em mim o desconforto de clarice. Como seria feito de tédio o domingo em que clarice despertava. Clarice ouvindo o telefone e previamente desiludida. Clarice olhando, atenta, para um prato cheio de comida. Clarice sentindo ao seu redor o peso da expectativa. Todos aguardando que ela dissesse: sim, a vida é boa e esta comida é deliciosa. Clarice perseguida por insônias incansáveis. Clarice perdendo a paciência com pessoas vaidosas, que poderiam morrer a qualquer momento. Clarice sentindo muita pena de uma mulher arrogante que adoeceria logo depois. Clarice cigana, adivinhando as infelicidades. Clarice está em mim e isso não quer dizer que sou clarice. Não é em vão que assumo esta presença. Não é em estado de graça ou êxtase. Vejo o decalque da marca no meu coração sem sossego. Vejo que clarice existe em mim quando compartilho a melancolia com o meu cão. Sinto que estou clarice, porque o dia novo é o um dia que mais me aproxima da morte. Sei que clarice está aqui porque escrever machuca, escrever me salva, escrever é a única coisa que faz sentido agora.

7 comentários:

Anônimo disse...

Ei dona Eliana Mara,

tô tentando me despedir da blogosfera, mas não dos amigos que aqui conheci. Inclusive aqui em BH, por sorte e prazer.

Não pretendo fazer mais comentários nos blogs amigos, ao menos por algum tempo, mas também não pretendo deixar de lê-los. Leio você todo dia, às vezes mais de uma vez. Confesso-me completamente seduzido por seu jeito de escrever, a um só tempo preciso e visceral. Produto, certamente, de muita ourivesaria e inevitável talento.

Posso dizer que os novos textos, de hoje, reforçaram em mim a sedu(i)ção confessada. No entanto, ainda espero que se distancie de Clarice e até mesmo de Eliana... Não sei explicar direito, mas sinto que talvez possa representar uma passagem, uma mudança de patamar.

Bem, não dê muita importância ao que digo, pois que incurável palpiteiro, ainda entendo menos de floresta que você, embora seja meio jungle boy.

No mais... estamos aí.

Eliana Mara Chiossi disse...

Rm:

se toda vez que você decidir ficar um tempo fora da blogosfera, vai me presentear com um texto desse, fique saindo e voltando, por favor.
Não sei responder, ainda.
Sei que estou comovida, tocada, mais feliz ainda por ter te encontrado e por ter me dado a chance de ter te encontrado aí, na tua cidade.
Sempre disse e vou dizer de novo: você tem me instigado, tem me provocado de um jeito único, e tem compreendido o que escrever significa pra mim.
E além de tudo, você é uma pessoa muito especial e feita daquilo que mais admiro: corajoso para ser incoerente, corajoso para ser quem você é, corajoso para estar presente.
Saber que você continua por aqui, ainda que sem comentar, é algo que eu preciso. Prefiro ter a manutenção de sua companhia.
A blogosfera é um mundo insólito para mim e minha navegação quase sempre tem sido equivocada. Mas ando desajeitada para as relações em geral. E se algo nas relações me assusta, viro pássaro urbano, prevejo uma pedrada e salto para outros territórios.
Então, o espaço íntimo da escrita me abriga.
Quero a tua presença, e tua presença tem sido uma provocação e uma partilha.
E volte sempre que puder.
Fique com meu carinho e toda minha amizade.

Beijos.

(Não se iluda: tudo que é escrevi é uma forma muito desajeitada e provisória de dizer algo)

Anônimo disse...

Eu amo Clarice, e toda essa dor que ela me traz. E todo esse amor que ela ultrapassa. E ainda crio expectativa por que pra mim é o sentido, ela é sempre vai superar, principalmente ultrapassa o esperado: no meio do desconforto, a sensação de estar em casa, perdida!

Você sabe que seus textos, você, são parte de minha vida?
Boa semana!!
beijos

A que está escrita. disse...

Eliana, através do Colar de Contas, onde há um link para cá, seu blog foi citado na coluna nova do Identidade Própria - passe lá para ver! Beijos!
http://www.francysoliva.blogspot.com/

A que está escrita. disse...

Eliana, através do Colar de Contas, onde há um link para cá, seu blog foi citado na coluna nova do Identidade Própria - passe lá para ver! Beijos!
http://www.francysoliva.blogspot.com/

Maria Elisabeth disse...

Hi sweet Eliana,

I was hungry for some bitter reading, so I wove my web and, surprisingly, your writing got trapped on it.
Your words an intriguing...they are absolutely digestible, but I'm afraid to swallow them up. Your words went from my eyes to my mouth. When they reached my tongue, amid words were digested first. I'm still savoring the rest of them. What a delicious piece of text you've cooked, Eliana. I'm sure you're a great cook of tasty texts! I enjoy the bitter spice you put in it. (he he he he)

I can almost picture you carving the diamond of your intellect and organically spiting talent on the paper. It was, indeed, a seducing reading!

Peace and love,
Bebeth.

sandro so disse...

IDEM ao que você foi e escreveu no meu blog, de forma muito dissimulada; só porque ele se chama simulador e simula a minha dor de não me sentir imagem e semelhança de ninguém e de nada, pois em deus eu não acredito, mas creio em vida eterna e não acho isso contraditório, mas demoraria muito escrever razões por aqui, pois o mundo tem inscrições sempre abertas, então peço que vá e simule qualquer coisa por lá e levante vôo pela escrita, se não não volto e não volto e não volto.