sexta-feira, 18 de abril de 2008

Soro

O médico prescreve. A enfermeira aplica. Ela encena. Você escolhe e eu volto para casa. Desconfio que o taxista vai rodar a cidade sem chegar ao meu destino. Tenho pouco dinheiro. O coração já sofreu demais e quer estancar os efeitos de sua voz: prefiro que ela vá embora. Ninguém vai entender se eu disser que este é o limite. Desta linha imaginária que criei, fiquem todos aqueles que pretendem medir e enfeitar. Eu quero a verdade. Eu quero a limpeza. Para os que entendem mal, para os que pisam nestas flores, a porta da rua é o caminho de volta. A madrugada me olha, sorrateira. O filho ingrato apresenta os argumentos da chantagem. Digo boa noite ao cachorro. Fecho a porta do quarto e procuro na agenda o telefone do terapeuta. Amanhã tenho um horário marcado com todas as minhas forças indefesas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Mara, querida.

Não precisa ser coadjuvante. Você pode fazer parte, sem que a parte faça por você. ;)

Meu coração ficou apertadinho.
Bom encontro com vc mesma amanhã. Atenção aos seus conselhos.

Beiiijos, muitos, flor.

Patty Diphusa disse...

Difícil falar alguma coisa sem deixar algo de lado. não posso falar da beleza desse texto sem tocar na dor. Difícil.

bjs

Anônimo disse...

Obrigado, Eliana!

http://www.youtube.com/watch?v=0CljvaEquHk

Beijo!

Eliana Mara Chiossi disse...

Celine,

as cenas de dor dão uma enciclopédia ininterrupta. Fico impressionada com as multiplicadas variações de dor que os homens podem viver. E isso me toca de um jeito que poucas palavras dão conta. E tenho uma vaga hipótese de que acima de tudo, como as plantas, precisamos de atenção. Mas paradoxalmente, deixamos de dar atenção. Então, é um jogo de extrema fome e incalculável avareza.
Agora, quando você chega aqui, a sensaçãó é de que tudo está bem.
Precisamos escolher um por-do-sol para olharmos juntas. Já assistiu
à peça:
Aux Pied de la lettres? (pode haver equivoco no meu france
s). Tá no SESC Pelourinho e dizem que é simplesmente maravilhosa.

Beijos

Eliana Mara Chiossi disse...

Patty,

estou numa correria (editais de projetos, bolsa da Biblioteca Nacional para escritor estreante, coisas da universidade, etc) e tenho ido muito pouco ao teu espaço.
Mas, cortesia e carinho combinam com o que sei de você e estarei lá te visitando.


Esta postagem foi resultado de uma história que ouvi. Desencontro de sentimentos e mãos desatentas.
O que em nós é tão solitário, afinal?

[tenho muita alegria quando você aparece neste espaço]
Beijos

Eliana Mara Chiossi disse...

Mr Almost,
thank you for alanis and

"Thank you, disillusionment
Thank you, frailty
Thank you, consequence
Thank you, thank you, silence"