sábado, 22 de março de 2008

Didática

Antes, eu achava que nosso encontro era também seu desejo. E me preparava, atendendo a minúcias. Planejei todos os detalhes que seriam necessários para recebê-lo e agradá-lo. Nenhum livro me ensinou a ser tão carinhosa, mas pesquisei como pude, observei, anotei, usei toda a memória disponível. Meu interesse por ele me guiava. O vestido era azul, o brinco era uma peça não convencional, escolhida pelo traçado rebuscado de uma mandala. Fiz cálculos para escolher o melhor perfume. Pensei nos lenços, coloridos que estariam espalhados no meu quarto. Eu poderia listar aqui todo o trajeto do meu esforço e desejo de fazê-lo se sentir como um rei. Mas cometi um erro de principiantes. Ou melhor, cometi o erro dos sinceros: eu mandei uma foto. E nesta foto não havia mentiras, maquiagem ou efeitos de edição. Mandei uma foto sincera, onde eu aparecia com a possibilidade muito minha de ser considerada uma mulher bonita. Na foto, não havia enganos sobre os quilos a a mais que pretendo reduzir toda segunda-feira. Esta imagem que enviei, era uma imagem que permitisse a ele me reconhecer no aeroporto. Penso que mostravam meus olhos cheios de afeto e quem sabe, em volta da foto, algo como sua aura, mostrasse também minha vontade explícita de estar com ele e acreditar no nosso começo. Mas como se eu estivesse revelando algum feitiço antigo, o castelo de cartas saltou sobre a mesa e já não havia nada. O que ele amava não era eu. O que ele desejava era a fantasia mútua, até então nutrida por nossas palavras hábeis e poéticas. Perdi aquele homem para sempre. E nem sei quem era ele. Mas ao perdê-lo perdi aquela mulher em que ele me transformou. Detestei minha foto e minha realidade. Desejei encontrar pelo caminho algum espelho mágico, para atravessá-lo e reencontrar meu amor na dimensão dos sonhos.

3 comentários:

Unknown disse...

O mundo tem inscrições e nós precisamos nos inscrever para não cairmos ma mesmice. Por acaso, pois não existe acaso,ao deixar um recadinho para o poeta encontrei o seu e acessei o seu blog. Nele me reencontrei.Quero ir lendo-o devagarinho, saboreando letra por letra e participar dos seus anseios poéticos.
Muita paz!

Eliana Mara Chiossi disse...

Marcia, que a sorte dos encontros traga no seu bojo uma nova amizade.
Bem vinda, então.

Paz pra você também!

Anônimo disse...

Eliana,

"Nada se perde, tudo se transforma".

Beijo.