segunda-feira, 10 de março de 2008

Calendário

Vejo as datas dando as mãozinhas. Um dia depois do outro, formando um grupinho quase coeso. Que se separam do grupo vizinho, que vem depois, avançando e trazendo na bagagem acontecimentos fixos, coisas humanas que fazemos sempre. E acontecimentos díspares, coisas divinas, tropeços e milagres. É reconfortante saber que os grupinhos de doze vão decidir na sorte qual deles vai trazer morte, formatura, multa de trânsito, convocação para servir o exército, perda de uma perna, aquisição de uma doença e de um guarda-chuva esdrúxulo, alteração nos dados cadastrais e na opção sexual, o rompimento com a mãe, publicação de um livro, ganhar na loteria, quebrar o dedo mindinho do pé, descobrir a cura para a caspa e entrar naquela seita religiosa que faz crescer cabelos. Os meses, são garotos tranqüilos, amansados pelo costume de assistir fatos óbvios e gestos repetidos. De vez em quando bocejam de tédio. Já viram de tudo e andam em busca de outras ocupações.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ah baianinha,

que entra na poesia "de qualquer maneira, que mexe, remexe, dá dor nas cadeiras e deixa a moçada..."

Ótima definição de tempo, aquele senhor que tudo sabe e a tudo vê.

Suzana disse...

Interessante essa idéia... E muito bonita!

Anônimo disse...

Bom, aqui está chegando a Primavera e eu com saudade das andorinhas: mais dia nmenos dia elas virão e as flores também.

Eliana Mara Chiossi disse...

Mande notícias da trajetória das folhas.
Andorinhas fazem verões aí também?

beijos