sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Estacionamento

Parei o carro e o choro. O prédio me aguardava, com elevadores, botões, copos de água e ironias. Se eu ao menos conseguisse cumprir a meta de algumas expirações longas. Era um tempo em que chá de camomila não acalmaria nem as minhas bonecas. Um cigarro, fora de hora, iria me encher de culpa. A primeira tragada e o cão. Tamanho médio, pelos marrons esparsos. Um cão carregando a própria morte. Sarna, fome, descuido, rua e saudade de um tempo em que havia um dono a quem receber. Cão olhando para qualquer direção, olhar de cão sem foco. E o cão, carregando uma dor colada, uma dor que já era sua própria pele, este cão latia. Latia para ninguém, latia sem esperança, latia quase sem som. Um cão que não sabia fazer silêncio. O cão, sem voz, sem nada para dizer, latia sem me ver. O cão, partindo meu coração em pedaços sem ordem. Eu, ali, sem lugar nenhum que me abrigasse, colada ao cão sem público, eu, também cão sem dono, eu, sem gesto algum para salvar nem ao menos um cão olhando para o nada.

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