quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Descrições

Perdi o sono e peguei a estrada. O som alto para impressionar. Vários acidentes registrando vazios de álcool e madrugadas. No solo encerado do aeroporto, um casal namora, deitado no chão, incomodando os infelizes. Eu, parcialmente satisfeita, observo e diagramo. Eu poderia ter visto que você não sabia desalojar o medo. Eu devia ter invadio a sua zona de conforto. Mais gritos, mais sangue, talvez até sangue de cinema, luzes acesas e natureza viva de frutas mecânicas. Estou atrasada. Para ser roqueira, não há chances. Para ser fascista, falta ódio. Para cometer um crime, estou por um triz. Meus quinze minutos de fama gastei numa cena medíocre, em meio ao trânsito engarrafado. Antes de entrar no quarto de hospital, eu estava velha e feia. Restos de esmalte vermelho nas unhas me dizem que a alegria secou. Meu cenário é a velha estrada no meio do deserto. Medo grande de que ao amanhecer eu não deseje nada. Não há graça nenhuma no deboche, na ênfase, na percussão, no riso, na queda, na ânsia, no vômito e no desmaio alheios. Eu quero apenas que este medo escandaloso vista roupas claras e tire o relógio detalhado.

Um comentário:

Helena Velho disse...

em vão esperei novas do outro lado do mundo...missivas perdidas num oceano imenso? a julgar pelo que acontece num país que tem menos habitantes que uma só cidade brasileira, com toda a certeza "perdeu-se" de amores por outra(o) destinatária(o).

Mil beijos Eliana!