domingo, 14 de outubro de 2007

Meu homem e suas moradas

Você, meu colecionador, abre teu álbum de retratos e vai exibindo a mim tua fieira de desejos. Fotografias pinçadas de revistas, desfile ininterrupto de mulheres que me retiram do teu quarto. Uma, pelos olhos verdíssimos, a outra, pela silueta esguia, aquela outra, com lábios irretocáveis. Em todas elas a mesma marca serial: mulheres jovens, meninas de inícios, exposição de vontades. Volto para minha fantasia refeita, o aeroporto é muito grande, aproveito o anonimato para chorar, sozinha, naquele café. Planejei a desilusão e não dei meus endereços. Aqui, a multidão me esconde e eu vejo você, girando seu corpo e seguindo com seus olhos de poeta, na esperança vã de encontrar a matriarca, a mulher de eras, a mulher velha com a echarpe lilás, a mulher que entrou para as aulas de ser sozinha. A única mulher que vai escapar das tuas mãos apressadas. Aquela que escapou dos teus desenhos.

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