segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Protetor solar

Me espanta que só haja esta certeza: acima de nós, o céu, abaixo, o solo. E neste intervalo, ensaios de alegria, presença com data marcada de desencontros. Saio à noite, sem proteção alguma. Não tenho medo da arma, escondida numa moita. Não tenho medo da moto, que faz uma curva escandalosa, não tenho medo dos fárois do automóvel imenso. Viver não tem, de fato, nenhum sentido. E relembro, algumas crianças que conheço, que estão a salvo, a esta hora. E então, sonho que existe paraíso. O céu se instala, o solo não descansa. Amanhã, os automóveis, gritos e pressa. Mas agora, dentro da noite veloz, a vida é um excesso de fragilidades.

4 comentários:

Nilson disse...

Frágil demais, essa nossa vida. Um gesto brusco é capaz de desmontá-la!

Anônimo disse...

Essa personagem está com carinha de Thelma & Louise.

Ellen Joyce disse...

"A vida é um excesso de fragilidades"
Perfeito

Mas vc disse 'certeza'? Pergunto-me se nós podemos ter certeza de algo, ñ acha?

Lidi disse...

"Viver não tem, de fato, nenhum sentido." Mesmo assim eu sinto um medo enorme. Não sei bem do quê. Adorei este texto, Eliana. Maravilhoso. Admiro tua escrita. Muito. Beijos. Saudades.