terça-feira, 10 de agosto de 2010

Buquê

Se eu fosse uma rosa, meus dias de segredo seriam exibidos em forma de botão, uma caixa de idéias, sobrepostas pacificamente. E estas pétalas, assim, prensadas, tímidas ou débeis, em paralisia e silêncio, seriam os meus medos, meus olhos fechados. A substância de orvalho, ácido veículo de viagens, tocando levemente a primeira pétala, a mais exposta, a pétala de vanguarda, daria inicio a uma dança, preguiça encantada, uma cobra sinuosa se despedindo de uma cesta feia e monótona. Assim, na abertura de rosa, eu seria uma cantora, quase louca, quase sã. Extendida em vários braços, cada pétala, pele liberta e autônoma, em busca de um norte desviado. Mas assim, reunidas, pétalas dançarinas e espalhafatosas, gritando para uma direção distinta, variada partitura, seríamos um sorriso, dentes abertos: felicidade irregular e ameaçadora.

3 comentários:

ítalo puccini disse...

se eu fosse. bonito pensar isso. literariamente falando.

gostei!

Anônimo disse...

Eu seria o espinho.

Lelena Lucas disse...

http://www.youtube.com/watch?gl=BR&feature=related&hl=pt&v=axxoV3YDMgo

Seu escrito me remeteu a esse balé que me comove toda vez que vejo.