sexta-feira, 23 de julho de 2010

Natimorto

O dia começa nas linhas regulares da vida.
Um verso apareceu, e partiu.
Escovei os dentes, sem querer me olhar no espelho
Estava feliz, ou simplesmente desperta, porque havia um verso
E agora o dia começa sem que o verso esteja aqui.

Um verso alojado, como uma nuvem ou bala
na cabeça matinal do que sou escritora.
Seria um verso claro e ritmado,
talvez como este:
E na rua esvaziada, os pedaços da notícia.
Eis aí um verso, como existem versos aos milhares,
mas não reconheço, não me serve.

A vida breve de um verso,
natimorto e celebrado.
Penso em Cabral, perdendo para sempre
"Se no telefone me falavas eu diria."
A mim seria negado,
um de meus versos preferidos.

Deito agora, fecho os olhos, tento retomar a viagem do sono.
Para outra vez ser provocada por um verso,
Perfeito e sonoro,
matéria de sonho, prenhe de um poema longo e contundente.


Mas o dia começa nas linhas regulares da vida
E o verso perdido, está bem guardado,
no esquecimento.

5 comentários:

Renata (impermeável a) disse...

o cotidiano, a rotina
a vida só tem sentido.... porque existe a poesia...

senão, o que seria?

Adorei esta nova cara do blog, leve como sua escrita!

ítalo puccini disse...

deixa o verso partir, não,
rs.

ou melhor:
deixa, sim,
ele volta
e faz poema, daí :)

beijo!

Dulce Moraes disse...

Suas palavras recuscitam, leves e soltas como um fio que segue tecendo lindas tramas.
Beijucas, linda.

Gerana Damulakis disse...

Então já se perdeu o verso.

E: descobri, lá no Mínimo Ajuste, que fazemos aniversário no mesmo dia.
29/01:vc, Flamarion e eu.

Gil Cardoso disse...

Não pude deixar de lembrar do Drummond, quando no poema 'Ser' disse:
O filho que não fiz hoje seria homem... interrogo meu filho... em que gruta ou concha quedas abstrato?

A vida breve de um verso é sepultada em jazigo perpétuo na mais doce eternidade de nossa lembrança.

Adorei o novo azul, tem cheiro de borboletas!!!!!!!