sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estátuas

Em que momento aquele que escreve pára e pensa: eu escrevo? E em que momento decide, por si só: agora não vou escrever mais. Um ofício, uma linha, uma vida. Escrever é menos do que respirar. E eu respiro, diariamente. Escrever é menos que viver. E eu vivo enquanto respiro. Escrever é menos para você, que se distrai, que me despreza, que olha de soslaio, para ver se alguém ouviu sua opinião ou seu silêncio. Escrever vai além do seu julgamento ou das suas preferências. Aqui, uma casa irreal, há aqueles que chegam e sentem-se confortáveis. Outros, instalam bombas invisíveis. Em algum momento, o centésimo leitor pode chegar e demorar um pouco. Estacionar neste texto o seu cansaço, as dúvidas, as mágoas. Outro, pode ver reforçada sua alegria, por contraste. Quem entende o que se passa no coração de quem escreve sem escolha, como quem respira? Então, existe aquele que lê e este que lê, vem e diz isto é bom, isto é ruim, isto merece apenas meu silêncio. Os que elogiam, os que desprezam, os que não voltam, quem são estas pessoas que movimentam o texto? Para onde vão, levando as poesias, as imagens, as metáforas, os clichês, os enganos. Levam de quem escreve uma impressão apressada. Levam de quem escreve uma visão deturpada. Querem saber se o escritor sofre aquilo que inventa. Se praticou o sexo que narrou. Se esteve ao lado do criminoso, se teve pensamentos impuros, se está disfarçado sob cada palavra. Ou se escancara mesmo sua loucura. Quem escreve aumenta a vida em vários pontos. Estende uma coberta sobre o chão seco, faz então um mapa rudimentar, um mapa inconsistente. Embaralha ainda mais as combinações e inventa a própria sorte. Quem escreve nunca dorme. Quem escreve e chora, narra uma fingida felicidade. Quem escreve, desloca os pés, entorta a própria coluna, queima a língua mil vezes. Eu queria caminhar, estátua de sol, e jamais olhar para trás, nunca desejar conhecer o tempo da leitura. O leitor, eu queria que fosse sempre amanhã. Mas o leitor é sempre ontem, o que leu e deu de ombros ao que sou.

15 comentários:

Unknown disse...

O leitor é aquele que lê, vive, recria a história narrada e não tem dúvidas: o texto foi escrito para mim!

ass 100ª seguidora

Eliana Mara Chiossi disse...

Bárbara, eu estava aguardando! Pensei em fazer uma postagem mais escandalosa, com bolinho, sei lá... Mas minha vaidade é tímida. E queria enviar para o centésimo seguidor um presente. Com certeza, o exemplar de Fábulas Delicadas, uma camiseta das Cronicas Havaianas (revista Verbo 21), meu carinho e uma surpresa. Mande seu endereço para o meu email.
eliana.mara@gmail.com

E você tem razão, este texto foi escrito para o 100º seguidor. Bem vinda!

Gil Cardoso disse...

Adorei.
O texto, a idéia de presentear o centésimo seguidor... (rsrs)

Parabéns a vc Bárbara, pela bela escolha de caminho.
Eu só não sinto inveja porque ganhei um autógrafo da Eliana no meu exemplar bem no dia do meu aniversário. rsrsrsrsrsrsrsrsr
Eu me senti muito feliz.

Aproveite bastante menina.

Eliana vc sempre com idéias felizes né?!. Beijo.

Anônimo disse...

O dia em que eu tiver 100 seguidores fundo uma seita de malucos. Ou fico paranoico. rs

Boa ideia, embora esteja com uma pontinha de inveja da Barbarix.

Bj Eliana

Renata (impermeável a) disse...

Bem, só para quem escreve sabe o quanto da sua vivencia pessoal está em um texto. O leitor que as vezes admira o escrito se pergunta o quanto é autobiografico, mas, mais que isto admira os SENTIMENTOS e a sensibilidade do escritor.

A maneira que se coloca as palavras, é como a maneira que se coloca os sentimetnos no coraçao?

Eliana Mara Chiossi disse...

Renata,
estas também são perguntas que faço.
Sabe, antes de publicar, o que escrevemos é nosso, fica guardado, ameaça menos, angustia menos, ao mesmo tempo que dá menos prazer. Há uma sensação nova, a cada contato que tenho com quem lê o que escrevo. Ter começado a escrever em blog talvez tenha sido um pouco precipitado, porque me expõe automaticamente à qualquer leitura e qualquer crítica.
Então, é um circuito muito quente, agitado, movimentado. Saber que há pessoas que leêm mas não comentam e saber quando gostam, quando se ausentam, quando silenciam... No blog há um termômetro muito instantâneo.
Mas quando penso na escrita, penso nos outros textos que estou terminando, ou que estão apenas começando na minha cabeça, e que sei que em algum momento serão outros livros. E acho que como escritora altero o meu modo de viver também, porque sou muito mais ávida de fatos e de histórias alheias, a vida dos outros me interessa, faço combinações, ouço histórias que processo literariamente e então, na minha escrita aparecem pedaços das vidas de outras pessoas, sentimentos que flagrei aos pedaços, filtrados pela minha percepção e pelas minhas ilusões de ótica.
Acho que escrevo de um ponto misto, onde cérebro e coração se encontram e brigam. Ainda estou aprendendo.
E gosto de ter companhia nesta trajetória. Agradeço a presença de quem me acompanha. De quem tolera até os momentos de maus textos.

Beijos

Eliana

Eliana Mara Chiossi disse...

Chorik, seu bobo! Você pode ganhar o kit... Me manda o endereço em Americana...

Beijos

(adoro ter 100 malucos me seguindo!!!!!)

Eliana Mara Chiossi disse...

Gil,

nem sabia que aquele dia era seu aniversário.
E se pude estar presente, com algum gesto de carinho, sempre menor do que você merece, já me alegro.

Beijos

Noslen ed azuos disse...

...você é muito bonita quando escreve, respira e vive.

E eu pego este gracejo para tbm me tornar sua poesia.


bjs
ns

Eliana Mara Chiossi disse...

Noslen,


você se tornar minha poesia, é de um lirismo danado...
Me pegou agora...


Beijos e silêncio!

Gerana Damulakis disse...

Gostei imensamente do texto.

Anônimo disse...

Texto maravilhoso, pura poesia. Já sabia que você era escritora mas não sabia que escrevia tão bem. Se tivesse seu talento seria escritor e não teria outra profissão. É como disse Jorge Amado: "Para ser escritor é preciso ler muito, escrever bem e ter nascido pra isto."
Beijos.

Leti Montenegro disse...

Ser sua leitora é indescritível. Ainda hei de encontras as palavras quando elas me faltam... beijos

Unknown disse...

que felicidade!

:D

Luna Freire disse...

Poxa, eu não sou centésima, mas sou fiel!!! Também quero este presente!!!

Brincadeirinha...

Agora, de verdade: As vezes, o silêncio é sinal de que não há palavras que comentem o que já está dito!