sexta-feira, 18 de junho de 2010

Continho para Saramago dormir

Quando o Damário morreu, eu consegui escrever alguma coisa sobre a poesia dele. Eu o conheci pouco, pessoalmente, mas estive sempre muito perto dele, através de amigos e projetos comuns. Ele era próximo, e talvez nem soubesse direito quem eu era. Quando a Maria Sampaio morreu, eu quis escrever, mas as homenagens para ela eram tantas e tão bonitas. Tive medo de parecer vaidosa, tive medo de parecer intrusa. Conheci pouco a Maria. Estive com ela em dois momentos de alegria. E a alegria dela era o que mais me aproximava. Ela também não sabia direito quem eu era. Não tivemos tempo. Mas teria sido bom, imagino, uma história mais duradoura com ela. Hoje, logo pela manhã, recebi a notícia da morte de Saramago, através de mensagem de celular, por um amigo novo, mas muito estimado, o Mauro, de Porto Alegre. E pensei em uma amiga especial aqui de Salvador, Mirella, para quem Saramago era muito mais que um escritor. Enquanto dirigia o carro, no meio do trânsito enlouquecido de Salvador, esta cidade que ainda me abriga, vim pensando que morrendo Saramago, ficam os mundos que ele criou, em todos os livros que escreveu. Um legado que honra a língua em que vivemos. Mas imaginei quantos mundos desaparecem, exatamente agora, os mundos que estavam em gestação, os livros que Saramago ainda escreveria, os tantos personagens que estavam vivendo ao lado dele. Damário, Maria e Saramago viajaram. Deixam os continhos para ninar as crianças grandes que somos. E deixam para nós a liberdade de continuar ao lado deles, alimentando agora uma amizade que vai durar até a hora da nossa viagem.

3 comentários:

Noslen ed azuos disse...

Estou lendo ‘Caim’ de Saramago. Quem disse que ele morreu, eu estou vivo e ele também, que no fim do livro, morreremos ele e eu.

bjs
ns

Mauro. disse...

Mais cedo te enviei uma mensagem antes de ler este post, por coincidência, nele, eu falava de legado, também.

Saulo Moreira disse...

querida, eu fiquei tão emocioado com esse texto...