sábado, 26 de dezembro de 2009

É Natal

Na plataforma, esperei por toda a madrugada. Acompanhei aquela fumaça típica das plataformas de filmes antigos. As pessoas saíam do trem com roupas de inverno. E malas antigas. Eu conhecia apenas a morte de relance, sem ao menos saber a cor da roupa, o estilo do cabelo. No começo da manhã, sentindo o alívio do café novo, sendo ofertado por alguns dólares americanos, percebi que ela caminhava em minha direção. Pediu desculpas pelo atraso, envergonhadíssima. E me pediu para adiarmos a conversa. Havia outros encontros urgentes e meu caso era ainda uma negociação. Nada muito definitivo. Recomendou que eu adiantasse o processo com algumas quedas, pequenos atropelamentos, algumas fraturas no joelho, queimaduras graves, ingestão de comprimidos. Mas nada fatal, porque isso iria complicar os procedimentos burocráticos. Dito isso, derrubou café muito quente no meu rosto, deu um sorriso de bom dia e foi embora, no mesmo trem em que chegou.

4 comentários:

Rafael Mantovani disse...

Também encontrei a morte saída de um trem, mas no meu caso ela pediu que eu esperasse, tivesse paciência, disse que está ocupada demais pra lidar comigo agora.
bjos e feliz fim de ano pra você, continuo inscrito no seu mundo.

Laboratório Sonoro de Hortas Urbanas disse...

Não sei ainda por que tu não escreve roteiro para filme.... excelente.

linguagens da alma disse...

Nossa!!! Fiquei até sem fôlego, Eliana!
Bom, li vários dos textos desse blog. Todos incrivelmente... como diria... hum... extasiantes, profundos, humanos!!! Mas, esse...esse é fantástico!

Lidi disse...

Adorei esse texto, Eliana. Muito mesmo. E que bom que a conversa com a morte foi adiada. Um beijo.