domingo, 16 de agosto de 2009

Licença para fazer um diário

Peço licença para fazer desta página a página de um improvável diário. Para confessar que hoje, olhando para a multidão agitada, senti saudades de ter um amor calmo. De ter fé em algum tipo de amor, desses que nos acompanham também aos domingos. Amor paciente para os dias de cólica. Amor divertido para olhar a pilha de contas para pagar. Amor crente no futuro, quando a crise é muito grande e a vontade de desistir é maior. Saudade de ter um amor desses que nos aguardam, quando chegamos em casa, com a poeira do dia e da cidade. Amor assim, com quem seja possível acordar de manhã e querer encontrar, à noite, para reclamar da fila, dos problemas no trabalho, da cor do cabelo que não ficou como eu queria. Saudades de um amor que ainda não tive. E que de vez em quando aparece nos filmes. Um amor improvável, mas do jeito que me fará feliz.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, cara escritora, e às vezes esse amor passou por nós e não percebemos, ou pior, desprezamos, o que dá no mesmo... Mas no fundo do meu coração tenho certeza que este tipo de amor só existe no cinema e nos contos açucarados que encontramos nestes livrinhos baratos de banca de jornal.

Eliana Mara Chiossi disse...

Caro Anônimo:
se você der uma lida no que está escrito, vai ver que a escritora deseja um amor que não existe. Os amores que existem, e que eu conheço, são sempre cheio de obstáculos, pressões familiares e outras coisinhas mais, que tiram o amor da lógica do sonho e coloca o amor na lógica da realidade.
Daí, que a escritora deseja o que nunca vai ter...
E se vê no direito de confessar...
E sabe de uma coisa, no fundo, por que não viver contos açucarados de vez em quando... Realidade demais cansa... E deve ser bom para intelectuais...

Noslen ed azuos disse...

Adoro te ler, sempre surpreende, dá vontade de ter suas palavras pelos prédios, seguindo às ruas, em meu copo, buzinas, brigas e sexo, suas palavras em minha sopa, roupa, pelos, resumindo no banho suas palavras o sabão.

bjs
ns

Manuela disse...

Acho que cada um de nós, ao menos por um dia, devia ter por perto um amor assim...que é pura leveza.