quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mulher habitada

Era o mesmo sangue. Antes, imperceptível em sua presença quase secreta. Este sangue, exposto apenas em situações de injúria ou urgência. Mapa de alguma ferida quieta. Agora, mulher habitada, sou a moradia do sobressalto. Os dias presos por um fio, dourado e quente. Seu retrato íntimo reverbera na lembrança do cheiro e da voz. E tudo em você provoca o que em mim se altera. O que sinto me faz inerte, quase um bichinho preguiçoso e sem vontades. O mesmo sangue, remoto e discreto, eis que, na sua presença, grita e circula, fazendo do meu corpo um conjunto de ruas em pleno trânsito. Buzina, freia, apita, se espalha, faz curvas, acelera. Vira um outro corpo querendo liberdade. O sangue familiar, o sangue cotidiano, é agora uma fera que me consome. E faz com que todos os instantes, aqueles, antes cobertos de uma camada de conforto e ajuste, sejam agora cristais de agonia e êxtase. O mesmo sangue, cumprindo a sina. Sangue, arauto da paixão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ô moça,
os adjetivos já me parecem incapazes de expressar a minha admiração por seu talento incomum. Sobram, talvez, os superlativos...

Tá na hora de publicar, não?

Eliana Mara Chiossi disse...

RM,

não sei como adjetivar tua presença na minha escrita.
Não sei como expressar a força que tua leitura tem, sobre minha escrita.
Tem muito dessa força que você me entrega nessa coragem minha, de estar exposta, por escrito, de estar sozinha, por escrito, de estar acompanhada de uma multidão, pela escrita.

ô, moço,
então, fique a vontade.
Publicar vai ser de mãos dadas com você.

Anônimo disse...

Concordo com o RM. Sem adjetivos. E tá na hora, sim.
beijos, flor.

Anônimo disse...

Muito lindo mesmo...