domingo, 10 de agosto de 2008

Eu faço do céu e mar meus arredores de ilha

A viagem exibiu suas ventanias. A mulher destemida foi barrada ao apresentar na pele a diferença. A voz da viajante acionou sistemas de segurança. Partículas minúsculas da minha residência, nos desertos, foram detectadas pelos radares do medo e os gestos hostis me acompanharam. Meus olhos povoados de perguntas, agora portando sensores armados e vigilantes. Usei todo o repertório de expressões bélicas. Demonstrei desprezo, força, susto, riso, revanche, brutalidade, intolerância e falsos juízos. Fiz mapeamentos precipitados e rejeitei convites ao abraço. Deixei de ser solidária. Caminhei acompanhada de meu orgulho. Pelo caminho, repentinamente, os amorosos se identificam e desejam boa sorte. E compartilham pão e palavras vãs. Regime perpétuo do deserto, desencontro tácito dos semelhantes que se odeiam. E ainda assim, nos intervalos de chuva miúda e orvalho delicado, eis a brisa falando bem baixinho, todas as vezes em que os amorosos se cumprimentam. E partilham.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo! Como sempre, como tudo que se transforma palavras de seus dedos.
Beijos