Ontem, o corpo queria dizer-me alguma coisa nova. Disse frases de preguiça e apresentou desinteresse pelos detalhes da cidade do Porto e pelo passeio de compras em livraria. De frente para o mar, recebendo belezas de sol e vento, deu gritos. Um corpo gritando me obrigou a ser levada para o hospital. Na ficha, constava a origem. Vinda do exterior, para viver um verão que não lhe pertence. Outros corpos em discursos ainda mais urgentes passavam mais apressados. Em mim, apenas a urgência do incômodo recém-chegado. Exame breve, uma febrícula e três remédios para incluir na bagagem. Acordei agora. Meus amigos estão longe. A casa tem seus silêncios e dois gatos que me cumprimentam. Dedico esta nova fase da viagem para aquele homem que deseja ver ao meu redor tristeza e infelicidade. Não posso garantir que vou atender aos seus desejos. O corpo gritou, os remédios têm efeitos colaterais e um pouco da energia deverá ser poupado, mas não há ventos nem homens capazes de me apartarem da minha crença de que aquilo que não mata, fortalece. Sigo a viagem. E há ainda janelas que me aguardam. Tudo que me acontece sempre pode virar ficção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário