terça-feira, 29 de julho de 2008

Escritos de férias 2

Perco a noção da hora. Ontem, cozinhei para os amigos. E como sempre, havia vinho disponível durante todo o processo. G, o amigo que gentilmente me hospeda, diz não acreditar em café feito em casa. Fico romana entre os romanos e saímos, logo após o jantar, em bando rumo ao Pátio, bar que é um espaço cultural. Lá encontro o escritor Walter Hugo Mãe, autor premiado com o prêmio literário José Saramago, com o romance " o remorso de baltazar serapião". O vinho e a surpresa me deixaram um tanto patética e não consegui ficar na mesma mesa que ele. Mas, antes de ir embora, ele veio até a mesa onde eu estava, com meus amigos, e conversamos. Ele estará em Brasília em agosto, e talvez seja possível levá-lo para Salvador, para uma atividade na UFBA. Depois, antes de voltarmos para casa, os meninos me mostraram a orla de Póvoa, o Casino iluminado e a noite ainda abrigaria bebedeiras e conversas animadas. Mas eu, repleta de informações sensoriais e afetivas, desejava a cama. Chegamos em casa e nem fui capaz de me despedir. A cama era um polvo, com perninhas carinhosas. Acordei com um sol inquieto, no quarto sem ventilador. Soube que daqui de onde estou, seguindo uma estrada quase reta, em pouco menos de três horas, chego em Santiago de Compostela. Esta possibilidade atiçou desejos. Ontem foi um dia intenso. Estive em Viana do Castelo. E apesar de ser um lugar magnífico, tudo girou em torno de meu encontro com Carmen, uma senhora de uns 80 anos, dona de uma loja onde parei para ver um belo xale preto de seda, bordado a mão, com o avesso tão bem bordado que nem se poderia diferenciar do lado direito. Contou-me histórias incríveis e me deu um galinho de Barcelos para colocar na carteira. Segundo ela, só traz boa sorte se for recebido como presente ou se for surrupiado. Ela que nos deu a dica sobre as Bolas de Berlim da Confeitaria do Manuel Natário. Ela e meu amigo me descreveram esta delícia e eu visualizava um tipo de pão, doce, dividido em duas bolas, e preenchido por uma camada de um creme delicioso ao meio, polvilhado com canela e açúcar. Era preciso chegar lá perto das cinco horas, horário em que sairia a primeira leva desses pães, fritos e servidos na hora. Pegamos a última mesa disponível e esperamos dez minutos. Até que finalmente chegam à mesa as tais bolas de Berlim. O dono da confeitaria reconhece meu sotaque e diz: ah, no Brasil vocês chamam de sonhos. E Jorge Amado vinha sempre aqui. Vejo então, fotos de Jorge Amado e Zélia Gattai, e uma placa dedicada aos dois. Pensei muito neste roteiro das Bolas de Berlim, supostamente desconhecidas, aos sonhos. Talvez sem este suspense, esta expectativa, eu não tivesse saboreado com tanta alegria as tais bolas de Berlim. De qualquer forma, os sonhos nunca mais serão apenas sonhos. Narrar para descrever também é uma forma de dar sabor novo ao que existe. Ao final do dia, subida a igreja de Santa Luzia. E por muita sorte, permissão para subir até o alto da torre da igreja. Fotos belíssimas. Comprei um vestido azul e um par de brincos que combinam, com uma vendedora simpática e sorridente. Pensando bem, ontem, todos estavam simpáticos e sorridentes comigo. Acho que era a energia de alegria e leveza que eu estava sentindo. Antes de viajar, vivi uma situação muito complicada. Pensei em desistir. Mas vejo que ninguém pode obrigar uma pessoa feliz a ser como era antes. E não acredito em nenhuma pessoa que diz me amar se ela não suportar a idéia de que sou feliz ainda que esteja sozinha. Lembro dos versos que sempre tocaram meu coração, da música do disco Doces Bárbaros e encerro com esta canção:
"o seu amor/ame-o e deixe-o/brincar/ame-o e deixe-o/correr/ame-o e deixe-o/dançar/ame-o e deixe-o/ser o que ele é/o seu amor/ame-o e deixe-o livre para amar/ame-o e deixe-o/dormir em paz". Se não pode deixar a pessoa que se ama livre, não é de amor que você está falando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ei Elianinha,
não posso crer que um doce tão mineiro tenha essa origem... E que nome, heim? (rssss)

Traga-me alguns, consta, pois, que nunca envelhecem...