sábado, 28 de junho de 2008

Over book

Um processador de imagens para você observar minha viagem ao contrário. Interrompidos os meus passos antes de ingressar no salão de desembarque, onde nenhuma placa com meu nome me aguardaria. Volto à esteira, pego a mala de cor chamativa e me despeço do amigo que fiz enquanto aguardávamos. Passo pela funcionária da companhia áerea e não a cumprimento. Lembro de sua voz rouca, falando detalhes sobre o tempo na cidade onde você não vai me receber. Estou preocupada porque a mala está pesada, provavelmente pelo excesso de sapatos e opções de trajes escolhidos para te impressionar. Sei que a mala não vai caber dentro da aeronave. Mas esta é uma operação narrativa de flashback e sendo eu a narradora, haja o que houver, o avião vai voltar para o ponto de partida. Agora não tenho pressa e subo todas as escadas rolantes presa no mesmo primeiro degrau. Antes, na hora em que o avião aterrissou, coração saindo pela boca e a respiração descontrolada, eu pulei pelas escadas, duas, se bem me lembro, saltando, em média, três degraus. O sanitário feminino, onde parei para retocar a maquiagem, escovar os dentes e colocar o perfume previamente escolhido, já não é útil agora. Ainda me encontro com passageiros que desembarcaram comigo, e que, por estarem vivendo o tempo presente, ainda estão espalhados pelo aeroporto, provavelmente, à espera de conexões. Vejo uma menininha simpática, de quase cinco anos, que no momento em que o piloto encerrou a aterrissagem, gritou muito animada: De novo, de novo! E fez todos os passageiros rirem. Digo todos porque adoro generalizações. Mas é certo que o jogador de futebol, expulso do jogo, estava com uma cara feia, de dar medo e nem deu importância para o clima jovial e feliz de todos que puderam expressar seu alívio pelo avião não ter caído em alguma clareira. Estou de péssimo humor e decido largar a mala pelo caminho. Faço isso porque é um aeroporto brasileiro e estou na área de vôos nacionais. Do contrário, seria acionado o sistema anti-terrorismo. O terrorista que mora em mim está querendo vítimas. Entro na mesma aeronave, antes me pergunto qual é a diferença entre avião e aeronave. Só vejo técnicos e alguns funcionários responsáveis pela limpeza. E não entendo o que impede este avião de me levar de volta para casa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Atenção, senhoras e senhores passageiros,
aqui fala o comandante RM (rsss).
Um pequeno problema de teto (sem falar no piso, nas paredes, nas instalações hidráulicas, etc.) impedirá nosso pouso no destino programado.
Em compensação vossas senhorias ficarão instaladas nos melhores hotéis e terão reservados os melhores restaurantes.
Nossa companhia agradece a preferência...
Overbooking? Nunca! Quê isso!
Nossa!

Brincadeira, Elianinha. Outro texto de quem sabe brincar de escrever e escreve brincando...

Eliana Mara Chiossi disse...

Bom leitor, mas de vez em quando lá vem com esculhambação...
Tá se aproveitando do post e fazendo propaganda para as meninas???
Deve ser uma fantasia de piloto de avião mesmo.