segunda-feira, 19 de maio de 2008
Celine
Se você vestir a roupa azul da santa, juntar as mãos e mantiver a expressão impávida das santas, poderá ouvir minha conversa com o tempo, anjo negro guerreiro, que corre sobre as coisas que me acontecem. Vai sentir o ruído da espada certeira do tempo que assinala a injúria das coisas que me acontecem. O tempo que atropela as traições, o tempo que transforma todas as minhas dores em dores do passado. Quero que você coloque esse vestido azul, feito especialmente para seu balé sobre as águas. E quero que você ouça a lista infinita das minhas descrenças. Flor que abranda as nuvens pesadas, quando você me procura, quando você diz o meu nome e procura pelo meu paradeiro, é uma santa agradecendo pelas velas que acendi, pelos rituais que cumpri, pelas rezas repetidas que ensaiei. Santa Celine, roga apenas por mim. Deixa eu ser o único fiel desta igreja. E faz do teu altar a cama quente que abrigará a substância, os pregos fiéis que não se soltam. Os pregos que expôem meu corpo e minha alma, dias seguidos sob o sol, diante desta multidão de coisas que acontecem. Corpo fixado, braços abertos e olhos vidrados sobre a rota dos instantes. Os que se despedem de mim, deixam marcas.
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6 comentários:
Eu poderia tecer "n" comentários, mas vou condensar: Sin-ge-lo!
Beijo de ovelha desgarrada que sou eu.
Amèlie,
ovelhinha singela,
que tem no cabelo rotas delicadas de sol,
se agarra ao barquinho
quando o tempo estiver bem lindo
e vem parar por aqui
para eu te receber com
chá e biscoitos
e meus livros marcados
Passaremos a tarde trocando
as leituras tatuadas
as leituras preferidas.
beijos desgarrados.
19 de Maio de 2008 20
Que belo!
..leio e me sinto caminhando numa celeste via crucis...que vai me deixando sem ar...chego ao ponto final sem fôlego de ver tanta beleza num texto só. Lindo, lindo!
seu texto é muito bom , vou visitar aqui mais vzs :D
beijos :*
Ouço todos os dias as ondas que vem da mente de quem eu rogo. Rogo com o amor que não vejo, e com o pedido que sinto. A saudade é a dor que envolve a expressão impávida e a vontade de ler o que acontece é o que me leva sempre a estar no altar. A estar de vestido azul. Porém as minhas mãos não se juntam e se aquietam. Minhas mãos passeia entre os ventos do mar, onde a dança que leva com o som de tuas preces, e suas descrenças me afagam com a alegria de companhia. Único fiel da igreja sobre o mar, onde bailo com as águas geladas.
Segura na minha mão solta e vamos juntas dançar nesse azul.
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