sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ária

Ouço a voz de Callas. E faz pouca diferença se fosse outra. Um belo dia, também avistarei um fio de fumaça no horizonte. A soprano e o ápice. As mitológicas deusas que esperam. As fantásticas mulheres que não cedem. A voz em seu êxtase. A platéia sabe que é tudo mentira. A platéia aproveita para purgar lembranças más. A platéia deseja a voz chegando ao teto. A voz tocando os lustres do teatro vivo. A voz ultrapassando a matéria. A gueixa maquiada, sobre o fundo da paisagem vermelha. A mulher ferida não morre com suspiro final. Cabelos soltos, espinha toda ereta e gesto definitivo. A borboleta faz um vôo acrobático. Solta a voz lendo as últimas notas de um amor perdido. Canta, se fere, bate as asas e fecha as cortinas.

2 comentários:

Anônimo disse...

O comentário que segue vale para os três próximos: lindo e triste, como uma ópera.

isabel mendes ferreira disse...

subscrevo integralmente.



Belíssimo.

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obrigada.

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(tb) :)