sábado, 29 de março de 2008

Verbete

Nenhuma câmera escondida vai permitir que você se aproxime da dor de uma mulher que grita, sozinha, no quarto, e quebra os perfumes e o espelho. O que ela pensa está escrito em fúria. A solidão, estilhaçada nas paredes, muitas vezes tem ilusão de companhia. O amor partiu. O amor nunca mais voltou. O amor dorme no quarto ao lado, e ronca na sua dessemelhança. E baba nos travesseiros seu sono e insensibilidade. As piadas, o humor e o chiste vão fazer a caricatura e apresentar a mulher dolorida como o habitante extremo de outros mundos. Algures, a esfinge, sereia complicada em teias e delírios. Olhe pela fresta, seja o voyeur sistemático não apenas dos gestos e do drama. Ouça, se aproxime, toque essa substância vaga e imprecisa. Deixe chegar até seu íntimo a lição do dicionário e dos vulcões.

6 comentários:

Anônimo disse...

Deixe chegar até seu íntimo o nada.
Para ficar calma. depois vai querer usar os perfumes e vai lamentar arrependida. Nenhum ronco ou baba, vale a fragrancia mais amada.
bjos

Eliana Mara Chiossi disse...

Celine, querida

gosto muito da tua companhia por aqui.

Estou no Itaigara...
E a UFBA me dá empregos.
Me escreve, por email, e te digo mais da minha vida soteropolitana.
E você?

Beijos

O Profeta disse...

Esta é a alma que voa de um Profeta
Ao encontro do teu sentimento
Este é o sal de alva espuma
Que te ofereço e diadema de espanto…

Olhos de alma, da tua alma
Quero-os no cais da minha chegada
Espero por ti em manto de ternura
No encontro da minha caminhada


Bom fim de semana

Mágico beijo

Anônimo disse...

não vou falar se entendi ou do que teria entendido, mas do que senti e do que não teria sentido.
antes de completar a leitura do primeiro período, parei e recomecei, pois "percebi" uma mulher se mexendo no silêncio de minhas palavras e curioso, parei para senti-la.
a fúria das palavras que ora as engolia sacudia a mulher nas mil paredes de minha imaginação e, sem poder interferir, insisti e senti sua dor branda a si desvencilhar sutilmente das palavras que a machucava. e eu via ao ler, as palavras não contê-la.
e não sei para onde ou de quem ela fugiu, se para longe das palvras, se de mim para longe.
e eu sucumbi no silêncio de sua ausência.
um abraço,
rudival.

Ju disse...

ninguém faz idéia da força-vulcão que a mulher tem em si. às vezes é preciso explodir, como um ciclo, para com mais calma ressurgir!
é bom sentir fúria às vezes; é tempestade e ímpeto, calor, vermelho, impluso vital.
beijos!

Unknown disse...

Bonito isso... "Ouça, se aproxime, toque essa substância vaga e imprecisa. Deixe chegar até seu íntimo a lição do dicionário e dos vulcões."