domingo, 30 de março de 2008

Oráculo

Eu imagino a cena em que o fogo começa. Todas as vezes em que pergunto quem sou eu. Não há dor neste momento, e posso ver o fogo me consumindo. O corpo começa a ser queimado pelo fogo desta pergunta. Primeiro a combustão dos cabelos e das unhas. Enquanto questiono a mim, o fogo queima minha pele. E porque insisto, vai o fogo fazendo o trabalho de resposta: queima meus órgaõs, músculos, vísceras, células, até chegar nos ossos. E o fogo, sábio, interrompe e põe em mim olhos contemplativos. Insisto na pergunta e o fogo, impassível, reduz tudo que é meu corpo a puro pó. Estamos num descampado e, imediatamente, o vento leva a síntese do corpo de mim mesma. Restamos apenas eu e o fogo. E ele decide interferir na seqüência dos meus pensamentos. Declara que eu e todas as pessoas que me rodeiam, são apenas coisas vivas. Coisas vivas que nunca param. E que é essa a única resposta disponível. Eu sou, apenas enquanto me movimento.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tão implacável e tão lindo, Lilica. Como o fogo!

Respire um pouco, querida.