sexta-feira, 28 de março de 2008

Mães

Eu disse, vociferando: Puta que o pariu. Ele me questionou, com o punho ameaçando um soco: E se eu te disser que minha mãe não é uma puta. Eu, com vontade não de apanhar, mas de morrer, respondi: Vai ficar o dito pelo não dito. A lojinha era escura. Eu entrei ali para comprar envelopes. Ele entrou ali para me roubar. Ele era muito alto. E eu, sempre pequena. Eu inclinei a cabeça para o alto, e nossos olhos se encontravam numa linha oblíqua. Ele me dava sinais de que havia uma arma. Eu decidi dizer tudo que me passava pela cabeça: você quer a minha bolsa, o meu dinheiro, os meus cartões, e eu vou esfregar isso tudo na sua cara, você quer me humilhar porque você é grande e hoje é meu dia de não aceitar mais humilhações, eu estou no meu limite, entendeu, e pode usar esta arma e usa agora, porque agora, antes de eu colocar essa carta definitiva no correio, é a melhor hora para morrer, e eu não tenho medo da sua altura, nem da sua faca, nem do seu revólver, eu quero que você me mate e me mate agora mas pára de encher meu saco e eu não vou gritar chamando a polícia porque a polícia me dá nojo, e eu acho que você pode me fazer este favor porque a sua eu não sei, mas a minha mãe é uma puta e eu quero que ela vá pra puta que pariu e leve todas as mães e avós deste mundo e leve junto todas as pessoas grandes que me ameaçam e eu só estou esperando, atira. Ele não atirou, ele não pegou a bolsa, nada. Ele saiu, a vendedora, agora sem cor nenhuma, me elogiou: nossa, que coragem a senhora tem. Eu olhei para a moça fraca que ela era e disse: vá pra puta que pariu você também. Sorte sua eu não estar armada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eliana, naturalmente trata-se, o que segue, de um mero comentário lateral, incompetente que sou para atacar o mérito:

mas eu sempre achei esse negócio de sexto sentido materno mais perigoso que TPM...

EU-Ñ,NÓS disse...

...e se eu disser, aos brados para o mundo ouvir, que você nunca estivera tão bem armada?
...o mundo se revela quando a arma é adequadamente usada, e nós já não morremos.
eu sinto a vida gritar que ela é imortal.
meu abraço,
rudival.