quarta-feira, 26 de março de 2008

Temporada

Toquei de leve sua nunca. Através de seus olhos, chegou a mim a intocável realidade. Pronunciei as tais palavras mágicas. Na seqüência decorada, seguia indicações dos peregrinos. Depois sonhei. Após ouvi-las, todos os seus gestos obedeciam aos meus pedidos mais remotos. Fim de linha, para a canseira. Destino de água, encharcando as cartas de antigamente. Teu riso, sopro que drenava o canto escuro, a pia cheia de louças e o jardim apodrecendo. Os desencontros, meros episódios esmaecidos, recebendo o filtro azul e artificial dessa lâmpada de encomenda. Ao redor dos teus gestos, a emanação compassiva, teus cuidados com a criança que me acompanhava. Ternura em movimento, voz vagarosa. Até que vieram chamá-lo para brincar. Tuas mãos ainda seguravam o brinquedo. Minha mãe surgiu do esconderijo. Assim, vestida de memória, cerrou as persianas. Eram as cortinas do teatro. Vermelhas, pesadas. Para uma platéia definitiva.

Um comentário:

Patty Diphusa disse...

Que sonhar lindo. Triste, poético, saudoso. Vc é muito boa. Já te disse, não?

Bjs