sexta-feira, 21 de março de 2008

Jejum

Hoje, somente hoje, ausentar-me. Olhar pela perspectiva da distância, a mágica do risco linear e impecável traçado pelo horizonte. Dentro de mim, a planta baixa do que sou eu, é um conjunto de sangue, músculos e vísceras. E ainda assim, é esse material perecível que se move e recorda. Que seja eu feita de peças combinadas à perfeição, objeto composto pela medida exata de grãos, rins, esqueleto, extremidades e protuberâncias. Em algum lugar, ou talvez por toda a extensão, nessa máquina previsível e finita, reside um segredo e sua chama. E ereta, limitada pelas planícies que são a terra e o céu, me movo. Em direção a todas as minhas fomes. Para azeitar a máquina, sendo dela provedor e zeloso funcionário, e também para alterar a lógica de seu funcionamento, faço gestos, caio, respiro e amo. Desmontando a mim mesma, abstenho-me e me lanço para fora deste corpo e pele. Na esperança que, de mim mesma esvaziada, pare de me perseguir a maldição deste espelho.

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