sábado, 22 de março de 2008

Fora do quarto

O quarto do casal agora é apenas o quarto de minha avó. Ele dorme num colchão ao lado da nossa cama tipo beliche. Desde que minha avó ficou doente, ele foi proibido de dormir com ela. Minha avó era boa, eu me sentia protegida com ela por perto. Foi difícil deixar nossos amigos da rua Alabama. Era uma rua sem saída, era como se a rua fosse nossa. Bom mesmo era quando tinha festas, festa de São João era das melhores, todo mundo se juntava e tinha muita comida, balões, fogueira, todo mundo acordado até tarde, nenhum medo e raras brigas. Minha avó ficou doente porque quis. Fez um plano de vingança e morte e cumpriu em seis meses. Não sei como, e ninguém me explica o porquê, este assunto é um tabu. Ela descobriu que meu avô era pai de seus filhos e também pai dos filhos da empregada, que estava com ela há muito tempo. Minha avó falou pouco, o suficiente para que meu avô soubesse que ela sabia. Foi adoecendo de acordo com o planejado, comendo pouco e trabalhando muito. Praticamente não dormia. Prostrada, naquela noite fria, com uma febrezinha baixa e insistente, pediu um cobertor, virou para o lado, disse que meu avô não entrava mais no quarto. Se ele aparecia na porta ela virava o rosto e ele saía. Seis meses depois como uma torneira pingando, foi desistindo de viver e morreu quieta.

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