quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A obsessão pelo vestido

Agora que tudo era noite, ninguém falava mais. O toque de recolher, seguido de um controle rígido, e eis-me, novamente, trancada nesta cela fétida. Nem nos sonhos posso escapar. Os meus sonhos voltam sempre à mesma cena. Noites seguidas acordo gritando e sou repreendida. Sento no canto, agarro os joelhos com as mãos e choro até cansar. Cansada, sentindo dores e pedindo a suavidade de qualquer morte, vejo as primeiras luzes do dia. Todas as noites da minha vida predestinadas. De tão branco, feito de beleza e para glórias, o vestido quase cegava. Detalhes delicados, estas perolazinhas aplicadas, com mãos pacientes. Todas as noites, as moiras riem tanto de minhas ilusões. Durmo, acordo, e neste intervalo entre um dia e outro, vou decorando o sonho: a mulher de cabelos que se arrastam pela areia, de tão compridos, corre, assustada e nua. Olha para trás e mostra um olhar aterrorizado. Carrega nas mãos o vestido.

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