sábado, 29 de setembro de 2007

Uma foto aceitável

Tentei postar uma foto no meu perfil. Meus limites como usuária não me permitiram fazê-lo. Deixei a foto aqui, e a foto aqui localizada me provocou.
Porque muitas vezes, quando penso em me apresentar para algum dos homens que amo, escolho entre as fotos disponíveis, apenas aquelas que mostrem meus melhores ângulos.
E no entanto, sinto um desejo enorme de enviar as fotos dos meus dias nublados, ao acordar com humor alterado, mulher de Almodóvar, sem saltos altos e com olheiras profundas. Ainda tateando às cegas o mapa de meu quarto, em busca de água quente para me despertar. Essa mulher, em cujo perfil aparecem registradas marcas de desamores, rupturas, alegrias, loucuras, gritos, afagos, partos, canções de ninar os filhos que criou, irritações, medos, descobertas. Essa mulher que é feia também, que tem seus dias de bruxa, de velha ranzinza, resmungona, impaciente para coisas mínimas. Essa mulher que tem alguns dentes quebrados, algumas rugas e pele quase oleosa. Uma mulher, essa eu, que está sem maquiagem, sem paciência e sem dinheiro.
Eu, cansada dos erros de minha mãe. Ela, ainda sonhando com amores possíveis, amores de brinquedo. Amores de leveza, amores todos, sem o peso de pertencer a qualquer país. Essa mulher, que eu gostaria de expor, seria eu mesma, sem cortes e sem edições.

4 comentários:

Helena Velho disse...

...e essa mulher é tudo e mais ainda: é o que eu vejo que ela é!

Joel Almeida disse...

Só sei dizer que ficou bonito...

mari celma disse...

Pelo menos esse retrato não é em branco e preto. Por que se fosse ofuscaria a menina brilhante que posou para ele numa tarde qualquer...

anarresti disse...

belo é isto que fizeste. falar do que é genuíno, vital.
abraço amigo.