sexta-feira, 4 de maio de 2007

A luz ficou acesa e excessiva porque a manhã clareou a sala toda. E no alto, a luz pequena, fora de qualquer conveniência. Olho para o desenho de Deus que me distanciou da simplicidade réptil. O lagarto, pele seca, roupa pronta para o exato sol que enfrentará, sai da toca, ergue o pescoço. Olha tudo com olhos esbugalhados e sem sentimentos. Então, talvez o lagarto não esteja vendo qualquer coisa. Pressente os predadores com outros sentidos. Lagarto tem memória do passado: os predadores existem e podem chegar a qualquer momento. A estratégia táctil de um lagarto: instantâneos desvios. Um lagarto é um robô que tem veias. O sangue verde do lagarto. O sonho verde da memória. Sangue verde não dói no meu coração, que é de outra espécie. A solidariedade do sangue vermelho. Bolhas, a esmo, minúsculas e explosivas. Bombas , de repente e tudo é silêncio. A insônia é útil: passeio por ela compondo quadros recortados.

5 comentários:

Gabi Chiossi disse...

as cores criam uma imagem literária perfeita.
cada vez mais você escritora!
adoro.

mari celma disse...

Para mim a insônia é uma desconhecida, claro que sei a definição, os sintomas,mas agora eu sei também que ela é feito um bosque possível, viajantes noturnos passeiam por ela e por lá está o fim da fronteira entre dia e noite, o fim das horas,horário de lagarto. Muito delicadas suas imagens! Gosto, gosto muito.

Alba Brito Mascarenhas disse...

Belíssima prosa poética. Beijos, Alba

André Setaro disse...

Estou aqui a fazer uma visita a seu blog.

LÍVIA NATÁLIA disse...

um exercício fantástico de pensar a alteridade.