quinta-feira, 19 de abril de 2007

Pela estrada

Os amigos me deixaram na calçada. O carro grande acelerou e só vi poeira.
O ônibus sairia logo, e de fato saiu. Eu fiquei. Uma hora depois viria outro e meu lugar foi reservado mediante pagamento.
Noites, três ou quatro, sem dormir.
Um corpo, uns olhos, mãos distantes do meu corpo. Limites implícitos. Cansaço agora.
Virá o ônibus, a rodoviária vai ficar distante, e espero chegar no outro ponto que compôe a finitude desta reta.
Estive na banca de qualificação de mestrado de Isabela e Juliana. Professores: Pedro, Edson, Zorzo.
Houve um homem que eu conheci sem querer, na sobra de vaga dos hotéis lotados em Belo Horizonte. Dividimos o quarto. Camas separadas e a realização de algo considerado improvável: longe de casa e permeáveis a carências, cada um sempre dormiu sozinho. Recatados e preenchidos de lembranças. Cada um saia no horário escolhido, poucas vezes estivemos juntos naquele mesmo quarto. Fugindo? Eu senti a leveza da ameaça: se houvesse o ócio disponível, a agenda vazia de compromissos, a preguiça permitida e as férias das palavras: ambiente propícios para os corpos começarem a falar e talvez o início dos entendimentos.
O medo do silêncio que nos faria começar a ouvir pedidos de corpos cheios de sabedoria.
Foram dias de conversas sem parar. Palavras enfileiradas, em fila indiana para ocupar o espaço.
E até hoje, duas pessoas sãs, duas pessoas premiadas.

O sono chega, o ônibus demora.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vá fundo neste blog, Eliana. Não abandone os leitores, que eles nunca deixarão de voltar.

Abraços

Diego

mari celma disse...

Como diria Nelson Rodrigues: chego a babar na gravata! Muito bem, muito bem, siga perseguindo essa escrita que na verdade sempre esteve contigo. E Damasceno tem razão: nós, seus leitores, nunca deixaremos de voltar. Oxe, se é tão bão vir aqui ver essas escrivinhanças! Abraço
Maricotinha

Mauro disse...

Demorei, mas cheguei ao começo.