sexta-feira, 27 de abril de 2007

minha alma rouca

O avião chega na hora exata em que os padroeiros recebem graças. Na cidade, dois relevos quase idênticos batizados com as mesmas águas desde o dilúvio. Dois irmãos se esticando para o alto, noite após noite, sempre ensaiando a diária inauguração de outra pose, que nós, sem a noção mágica dos engenheiro, não percebemos. Diríamos que os dois irmãos têm estrutura sólida. E eles fazem chacotas de nossa ignorância e se movem na velocidade interditada. A cidade tem murmúrios de escândalo. Para meus sentidos seletivos, sem ácido algum, pedaços de realidade chegam como intrusos: as buzinas delirantes, ruídos percussivos, pedintes e apressados, pendurados nas gravetas obscenas. Cenas prontas para o filme: acionando o enquadramento e injetando trilhas sonoras, lá vão os homens, mulheres e bichos, rumo à estação derradeira.

3 comentários:

mari celma disse...

Sempre achei imcompreensível a pressa nossa de todo dia, mas, lendo seu flash alma rouca, pude perceber que a insólita pressa na verdade é só um desfarce que usamos para não lembrarmos do fim da linha ou como vc mesma disse "estação derradeira". A pressa virou então um pseudônimo. E acho beleza em pensá-la assim. Vida longa às inscrições que graças a Deus sempre estão abertas!

Joel Almeida disse...

como na gramática da fantasia fiquei encucado com as gravetas...seria o feminino de gravetos...ou gravatas de gavetas, engavetadas. Esse texto me lembrou o trânsito (ou o não-trânsito) que enfrentei hoje...inda bem que existe o texto literário!!! Viva!!!

Manuela B. Viana disse...

Sei que ando em falta, além disso estou atrasada. Profundamente. As duas últimas postagens datam de abril e maio, a minha é temporã.
Querida Eliana, acho que você escreve lindamente e que eu preciso reformular minha escrita, que anda paupérrima. Abraços de verdade!