sábado, 13 de novembro de 2010

Sábado

Agora
já é tarde
e acordei sem saber que quarto é esse,
o meu quarto de sempre.

Agora 
é cedo demais
para pegar a estrada
pois acabou a temporada de fugas
e há uma pilha de louças para lavar.

Agora
nem sei que horas são
dormi de tarde
acordei de ressaca
nao vi o dia passar e 
quero desviar meu corpo
do espetáculo desta noite.

Se eu gritar
os vizinhos vão ouvir
vão bater na porta
e talvez me levem 
para o hospital
para o hospício
para a rodoviária
para o aeroporto
ou para o IML.


Será melhor, então,
andar pela casa sem sapatos
relembrar o passado sem fazer alarde
rever as fotos sem esboçar um gesto sequer.


Fazer desta casa uma cela,
montar dentro da sala uma ilha,
usar o quarto para um playground precário
onde eu possa, pelo menos,
lembrar da alegria de pular na cama dos meus pais,
quando eu era criança
e não sabia que viver doía.

7 comentários:

Ellen Joyce disse...

Aqui eu venho pra me doer...
Que coisa bonita a metáfora do quarto...
Espero que a melancolia sirva só pra nos servir versos, muitos versos...

Sarau do Nhocuné disse...

Gostei...pungente reflexão. De fato, há dias que, sem aviso ou razão aparente, dá medo ser; dá medo existir. Dias em que a noite, lá fora (metáfora) e os vizinhos, por perto, (alegorias); nos causam medo e estranheza, e só o passado nos indica um certo conforto, alguma certeza. Será saudosismo?! Há dias assim...

Sarau do Nhocuné disse...

Gostei...pungente reflexão. De fato, há dias que, sem aviso ou razão aparente, dá medo ser; dá medo existir. Dias em que a noite, lá fora (metáfora) e os vizinhos, por perto, (alegorias); nos causam medo e estranheza, e só o passado nos indica um certo conforto, alguma certeza. Será saudosismo?! Há dias assim...

Anônimo disse...

Oh, menina... faço minhas as suas palavras, se assim vc me permitir.
É assim que me sinto mtas e mtas vezes. Não tendo mais o que fazer.
www.falarsemcalar.blogspot.com
www.sapeaquitambem.blogspot.com


Abraço.

Muadiê Maria disse...

linda poesia, Eliana.

Anônimo disse...

Depois de ler, uma certa saudades me invade!
Tão longinqua, mas ao mesmo tempo como se tivesse acontecido ontem

Anônimo disse...

Que lindo "temporada de fugas". Além de super sonoro, é também super simbólico, com mil significados.
Adorei. Muito!
bj :)

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