domingo, 11 de maio de 2008

Madrasta

Para Isabela, (e se fosse possível) sem escândalo


Casa destelhada. Jardim descuidado. Mesa rodeada de bichos que rastejam sobre o banquete antigo. A regularidade azul da persiana. Quatro paredes rotineiras e as saídas bem localizadas. Correr em direção à porta. Saltar da janela. O destino do gesto é perder o endereço fixo. Antiga residência de alegrias. Caixa confortável. Abrigo dos registros rupestres. Caverna cravada nos dias iguais. Êxodo, agora. Instante de exilados, sem tempo para bagagens ou higiene. Só restou o longe. Distância saneadora. Olhamos para trás. A casa ocupada por roseiras violentas. Pinceladas de morte e de vermelho. O risco do sangue percorrendo as paredes. A matéria bruta e inumana. O crime sem face. Tudo mancha este silêncio. Todo gesto é corrupto, mãos intrusas no pesadelo. Toque de mágica e seus possíveis. Era uma vez um conto de fadas, dançando em volta deste horror. Que todos durmam na cela íntima. Que tudo se cale em nós para sempre. Até que vença o reinado das roseiras violentas.

3 comentários:

Anônimo disse...

E as roseiras crescem, aqui, do outro lado. A gente se espanta, e se cansa.
É fácil punir.
Mas não é tudo que precisa.

beijos

Bel Sousa disse...

Eliana, Jaqueline me falou do seu blog, mas as palavras do outro nunca são suficientes é preciso perceber por nós mesmos. Lindos, lindos, lindos os seus textos. Espero sua visita tbm!

Junkie Careta disse...

Que lindo moça...

Não sei porquê nunca lhe falei isso, mas, tenho um outro personagem(um dos muitos...)que escreve alguns borrões de poemas há uns 15 anos. Decidi postá-los em um blog chamado "Spleen rosa-chumbo". É um esboço de um futuro livro.Qdo tiver um tempo apareça por lá. Me interessaria muito a opinião de uma poetisa sobre meus poemas.

Grande abraço