terça-feira, 22 de abril de 2008

fragrância

Para Nuno, porque eu ainda acredito nos nomes que o amor nos deu


Eu disse aos ventos dos quatro cantos do mundo o meu amor. Eu espalhei a notícia, levada na corrente de todas as águas. Eu cantei árias infinitas nos palcos das grandes cidades. Eu disse aos céus e a chuva o meu amor. E tanto escândalo para traduzir um amor pequeno. Um amor de pedinte, desesperada e faminta. Era o amor para construir uma cela, decorada, ilusões por todo o terreno. Era uma operação monetária. O amor era uma peste e fazia cálculos. O amor era uma doença e arrasava meu corpo e o seu. Eu procurava sua alma, eu queria laçar seus desejos. Eu queria seus olhos mirando sem interrupções a minha face. O tempo desafiou meu amor pobre. Os acidentes vincando minha pele, impressões de memória. E sua morte suspendeu a vaidade, o rumor, os meus exercícios de suposta importância. Quero amá-lo agora, nessa distância sem retorno. Fazer do meu amor um guerreiro. Meu amor é um samurai. Meu amor é um terrorista. Meu amor entra no avião vestindo bombas e não treme. Meu amor quer apenas seu benefício. Meu amor alcança todas as vitórias apenas para ofertá-las. Meu amor é um imperador. E com as vestes preciosas e suntuosas de imperador, prostra-se diante do altar e é agora São Francisco que vai amar os animais e os pobres. E vai dar até o que não possui. Meu amor é esta dedicatória de nada possuir e dizer que tudo que possui é seu.

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