terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Tua chegada

Idêntica a todas as outras cenas de chegadas em aeroportos. Nada de mais. Nenhuma criatividade. Puro plágio e várias imitações. Eu estaciono o carro, uma hora antes do previsto. O carro está tão limpo que dá para lamber. Uso um sapato desconfortável, mas muito elegante. OS cabelos com ar de quem acabou de sair do salão de beleza. As unhas pintadas de vermelho, cor que eu abomino, em condições normais. A temperatura ambiente, mais ou menos 40 graus, se mantém mesmo quando estou no interior do aeroporto, protegida pelo ar condicionado. Nada em meu corpo se entende. O estômago tem uma opinião sobre o assunto, bem divergente do cérebro, que manda mensagens ridículas como mantenha a calma, é apenas um amigo, o projeto do livro é que importa, ele assinou o divórcio há um mês, você é adulta, não deve sexualizar esta amizade e blá, blá, blá. O estômago responde: o nosso primeiro beijo vai ser na boca? Vou ao banheiro inúmeras vezes, este já é o quinto café, esta revista não diz nada interessante, aeroportos podem ser muito chatos, não posso comer um chocolate que acalmaria minha ansiedade porque tem calorias, não posso tomar o ansiolítico porque pode me dar sono, não posso voltar pra casa porque ele chega daqui a quarenta e cinco minutos. Daqui a pouco eu estarei sendo desastrada, ridícula, falando pelos cotovelos, tropeçando no salto alto desse sapato que não tem nada a ver comigo. Ou não? Este sapato cor de rosa também sou eu. Ou é aquilo que quero dar a ele: uma mulher que sabe dizer, na pele, a cor de seus desejos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fico muito contente que tenha retomado este espaço

Eliana Mara Chiossi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.