sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Susto

Grita, mulher, grita. Grita agora que você pode. Amanhã vai ser o dia de ingerir sem líquido. Grita, infame, grita. Depois de amanhã é dia de fazer exames, na outra semana, seu filho chega de viagem. E os próximos meses te aguardam com os aborrecimentos no trabalho novo. Grita agora, grita da janela e só pare quando afinal não houver mais nada em você que emita sons. Extenuada, braços largados ao longo do corpo, suores e cabelo desgrenhado. Olhos vazios, lá no canto da sala um dos sapatos vermelhos. Seu cão atônito. O telefone teimoso. Depois, abrace os joelhos, sinta o chão frio que te recorda onde você está. Agarre este choro, como teu prêmio. E o tempo dos gritos já passou.

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