sábado, 19 de janeiro de 2008

Aquario

Um quadrado de vidro. Angulos idênticos para minha loucura. Lá fora, boiando, as meias desconexas. E o desfile das peças da máquina. Lentamente um peixe abria e fechava a boca. Falando mais lentamente ainda para eu entender seu idioma. Nenhum som. Via noite e dias circulando, na medida gradativa de reflexos que feriam. Ao longe, o choro eterno, torneira pingando uma unidade apenas, sem parar, até o desespero, represa enlouquecida. O bebê em degradês de putrefação. O bebê ficando roxo e ao lado dele, o cobertorzinho cor-de-rosa. Nenhum ângulo servia de apoio para acomodar o círculo latejante. Filmavam. Os documentaristas da vida alheia. Os escritores da discórdia. Do tamanho justo para esticar braços e pernas. Não sobrava espaço nem para um grito. Nem a morte alcançava a torre transparente, nesta viagem turbulenta em que existia apenas um corpo idêntico ao meu e sua ilha estilhaçada.

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