quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A bolsa tingida

Saí para a vida. Ocupei os lugares devidos. Cumprimentei, delatei, julguei, comprei e desobedeci. A mobilidade nova, o carro, os desvios. Um motorista bradando, como se fosse um mudo. Eu o vejo e traduzo o desespero sem sons. Estou protegida do calor, da chuva, dos violentos e dos famintos. Ele grita, abana os braços e quer cortar o fluxo, congelar a procissão cega. Ele matou. Derrubou um corpo. Uma bolsa caída, sangue espalhado no asfalto quente. Eu vi a mulher morta e lembrei de meu filho. Meu filho, que atravessa ruas nervosas. Onde está minha mãe agora, perigos cercando meus amores. Eu tenho medo de atropelar um cão. Houve um tempo em que morrer era meu ápice do medo. Matar é minha morte final. Eu tenho pena do motorista mudo.

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