quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Além mar

Era novamente o dia de visitas. Ninguém sabia cuidar dos cabelos de Pedro como eu. Pedia autorização dos médicos e toda semana armava as tranças compridas, que já se perdiam pela extensão do piso encardido. A dor maior, a dor insuportável, aquela que talvez consumisse todas as horas de minha vida, não era vê-lo assim, fugido de si mesmo. Nem tampouco ouvir a sucessão ininterrupta de frases costuradas por uma linha misteriosa. A dor de morte, a dor para sempre, era saber que, estando comigo desde que nascera, hoje seus olhos não me reconheciam. Eu estava ali, mas não em sua companhia.

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